Desromantizar a maternidade na infância e adolescência. Por que levar uma gravidez a termo é mais perigoso do que o aborto para crianças e adolescentes?

Desromantizar a maternidade na infancia e adolescencia

Como sociedade, temos uma visão romântica da maternidade. A mãe arquetípica é uma mulher gentil e carinhosa, que sempre quis ter filhos. Ela tem um desejo natural de cuidar dos outros, e sua vida é preenchida pela gravidez e pelo nascimento do bebê. Essa visão da maternidade não é dissipada pela mídia, onde a gravidez é frequentemente mostrada como livre de complicações e a criação de um filho como profundamente gratificante. Os efeitos dessa narrativa não discriminam idade, e as adolescentes são tão propensas a serem atraídas para a história quanto as pessoas mais velhas. É importante que, independentemente de a gravidez ser intencional ou não, as adolescentes grávidas sejam capazes de avaliar todas as suas opções de forma consciente e equilibrada. A gravidez na adolescência pode ser perigosa e ter efeitos a longo prazo na vida das mães, pais e da criança. A maternidade na adolescência, bem como a paternidade, precisa ser desromantizada.

Efeitos físicos da gravidez na adolescência

Como em todas as gestações, as adolescentes grávidas podem enfrentar vários desafios físicos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, complicações na gravidez e no parto são a principal causa de morte em todo o mundo entre pessoas com útero entre 15 e 19 anos. As adolescentes que dão à luz muitas vezes têm uma saúde física precária e negligenciam suas próprias necessidades enquanto cuidam de seu bebê. Elas também são mais propensas a estar abaixo ou acima do peso do que outras pessoas que dão à luz. Adolescentes grávidas também correm maior risco de pré-eclâmpsia, anemia, contrair DSTs e de ter um parto prematuro.

Os bebês de mães adolescentes também podem enfrentar uma série de problemas físicos. Além do aumento dos riscos de natimorto e aborto espontâneo, os recém-nascidos são mais propensos a ter baixo peso ao nascer e sofrer de condições neonatais graves. Da mesma forma, as mães adolescentes são menos propensas a receber cuidados pré-natais vitais nos primeiros meses de gravidez. Isso coloca as mães e o bebê em risco de complicações.

Ideias romantizadas sobre a gravidez e a maternidade podem levar a sérios danos e até à morte da adolescente grávida, do feto ou bebê. As adolescentes grávidas podem enfrentar muito menos complicações físicas em um aborto seguro do que em uma gravidez arriscada. Abortar é um procedimento médico seguro e deve ser considerado ao discutir os efeitos a longo prazo na saúde da adolescente grávida.

Efeitos mentais da gravidez na adolescência

Os efeitos mentais da gravidez são particularmente desgastantes para as adolescentes, em parte porque seus corpos ainda estão passando por mudanças hormonais e em parte porque estão menos preparados para lidar com as tensões da gravidez e do parto. Pesquisas mostram que adolescentes grávidas de 15 a 19 anos têm duas vezes mais chances de sofrer de depressão pós-parto do que aquelas com 25 anos ou mais.

Os sintomas da depressão pós-parto podem incluir dificuldade em se relacionar com o bebê, exaustão, ansiedade, ataques de pânico e pensamentos de prejudicar a si mesma ou ao bebê. Mães adolescentes também têm níveis mais altos de depressão, estresse e pensamentos suicidas do que suas semelhantes que não deram à luz.

As adolescentes grávidas são menos propensas a ter boas redes de apoio. A relação entre esses fatores se dá nos dois sentidos, pois as adolescentes grávidas geralmente vêm de contextos de agressão, baixa escolaridade, baixa renda ou lares e comunidades caóticas ou instáveis. Da mesma forma, adolescentes que engravidam são mais propensas a serem rejeitadas por seus familiares e amizades. Essa falta de rede de apoio as coloca em maior risco de sofrer com problemas de saúde mental durante a gravidez.

Embora fazer um aborto possa ser um procedimento extremamente extenuante mentalmente, os efeitos da gravidez na adolescência na saúde mental são igualmente impactantes. A maternidade, ou paternidade, muitas vezes não corresponde às expectativas irreais exibidas na mídia, principalmente para adolescentes que não têm o apoio ou a estabilidade necessária. Fazer um aborto não significa que uma adolescente que quer ser mãe nunca o fará. Abortos podem de fato ser mais faceis para a adolescente grávida.

Efeitos da gravidez na adolescência no futuro da adolescente

Adolescentes grávidas também experimentam efeitos socioeconômicos. As mães adolescentes são mais propensas a abandonar a escola e, portanto, têm oportunidades de emprego mais restritas. Isso as coloca em uma situação econômica instável. Elas também são menos propensas a experimentar uma variedade de situações sociais do que suas semelhantes, tornando mais difícil desenvolver boas amizades e expandir suas redes de apoio. Os efeitos físicos e mentais da gravidez também podem impedir que a adolescente se recupere e se adapte mais tarde na vida. Tanto porque os efeitos podem ser de longo prazo, quanto porque estão comprometidas a cuidar da criança por 18 anos.

O aborto permite que grávidas de todas as idades retomem o controle sobre suas vidas. Estes procedimentos devem ser vistos como ferramentas para criar um futuro melhor, em vez de corrigir um erro do passado. O número de adolescentes que engravidam diminuiu na última década, de 16 milhões de nascimentos de adolescentes em 2000 para 13 milhões em 2019. No entanto, esse declínio é desigual no mundo, com regiões como a Índia e o sul da Ásia liderando, e outras regiões, incluindo o norte da África e o Oriente Médio, ficando para trás. Ver a “maternidade” como um compromisso sério, com efeitos físicos, mentais e sociais é uma parte crucial do processo de tomada de decisão para qualquer nova mãe, principalmente adolescentes.

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